Ele há coisas que tenho dificuldade em perceber. Já nem digo aceitar, fico-me pelo perceber. Depois de ouvir Almeida Santos dizer que "o povo tem que sofrer as crises como o Governo as sofre", acreditava que pouca coisa mais me poderia surpreender. Mas, como pouco ainda é alguma coisa, Ricardo Gonçalves, deputado do PS, saiu-se à dias com aquela que é, para já, o tiro do ano no pé.
Procurando, talvez, mostrar como as medidas anunciadas pelo Governo não são apenas para afectar o povo em geral, o parlamentar socialista disse, ao Correio da Manhã, que os deputados são dos que mais “dinheiro perdem” com as medidas de austeridade apresentadas pelo Governo. E justificou de seguida: "Estamos a atravessar um momento difícil, foram tomadas medidas muito duras e, obviamente, que sendo neste momento deputado sou dos que perde mais dinheiro". E acrescentou: "Se abrissem a cantina da Assembleia da República à noite, eu ia lá jantar. Eu e muitos outros deputados da província. Quase não temos dinheiro para comer". Explicando de seguida: "Tenho 60 euros de ajudas de custos por dia. Temos de pagar viagens, alojamento e comer fora. Acha que dá para tudo? Não dá", referiu Ricardo Gonçalves.
Eu, olhando para isto, e já nem falo no meu salário que não é grande coisa, penso naqueles muitos que têm de se governar com 475 euros por mês e abonos de família mais baixos do que as ajudas de custo do senhor deputado. E quero acreditar que Ricardo Gonçalves não está a gozar com a cara desses milhares de portugueses que descontam diariamente para pagar ao senhor deputado o seu mísero salário de 3700 euros, mais as ajudas de custo.
Por isso deixo um conselho: Senhor deputado, se as coisas estão assim tão mal, demita-se do cargo que ocupa e volte para a província de onde veio. Verá que, aí, conseguirá sobreviver bem melhor com todo o manancial de equipamentos sociais, médicos e educativos que o seu governo e outros tão diligentemente construíram nas duas últimas décadas.