Julgava que tinha o mundo na palma da mão quando, por momentos, abria o computador e, em meia dúzia de cliques, sabia imediatamente o que se estava a passar em Beirute, Lima ou Toronto. A partir do Porto, sentado na secretária, julgava tudo saber sobre tudo. Escrevia dez mil caracteres em meia hora e despachava quatro ou cinco emails enquanto o diabo pensava que se calhar devia coçar um olho. Um dia faltou-lhe a luz por meia hora. Suicidou-se por ter ficado sem saber, na hora, que uma borboleta batera as asas na China e que uma pinguim dera à luz em pleno jardim zoológico. "O mundo não espera por nós", dizia montado no alto da mulher do asno, que hoje nem tinha culpa de nada. Entretanto não aguentara mais o silêncio do mundo e enforcou-se com um cabo de fibra óptica roubado a uma rede agora sem fios.