«Os patrões da indústria querem aumentar o número de horas de trabalho. O objectivo, defende a CIP - Confederação Empresarial de Portugal, é reduzir o "custo unitário do trabalho" para ganhar mais competitividade, um argumento que também já levou a organização patronal a propor o corte nas indemnizações por despedimento». No entender de António Saraiva, é ainda importante alterar «"a forma irrestrita como se encontra garantido o direito à greve", bem como a legislação que estabelece o direito de controlo de gestão pelas comissões de trabalhadores» (in DN Bolsa, Diário de Notícias).
E, perante isto, eu cada vez estou mais convencido que na escravatura os escravos tinham mais garantias e os patrões mais obrigações. Se não vejamos: o fruto do trabalho do dono dos escravos dependia directamente das condições em que se encontrava a sua mão-de-obra. Por isso, era obrigado a alimentar com um mínimo de condições o escravo, garantindo-lhe ainda algo parecido com um abrigo e uma cama. Hoje os trabalhadores pagam para se deslocar para o local de trabalho (seja em transportes públicos ou veículo próprio), trabalham muitas vezes diversas horas extraordinárias sem receberem nada em troca e, em muitos casos, à mínima contestação são, pelo menos, colocados na "prateleira dourada" da empresa ou, no limite, despedidos sem direito a qualquer indemnização (pronto, vá lá, nisto evoluímos porque os escravos que se portavam mal era chicoteados ou, no limite, mortos). Isto quando não fica inúmeros meses sem receber salário, vê a empresa fechar portas sem lhe pagar os créditos devidos e ainda tem de pagar para ir a tribunal reclamar aquilo a que tem direito (recebendo-o, muitas vezes, muitos anos depois).
Simultaneamente, não posso deixar de com alguma ironia sorrir, quando ficamos também a saber que, nas empresas cotadas em bolsa, «os administradores executivos ganharam, em média, 513 mil euros, contra os 297 mil euros dos não executivos. O gestor executivo mais bem pago levou para casa 3,1 milhões de euros, quase o dobro do não executivo, 1,6 milhões» (in DN Bolsa, Diário de Notícias). Ou, como se lê no Diário Económico, «cerca de 20 administradores acumulavam funções em 30 ou mais empresas distintas, ocupando, em conjunto, mais de mil lugares de administração, entre eles os das sociedades cotadas", lê-se no relatório anual sobre o Governo das Sociedades Cotadas em Portugal, ontem divulgado pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM)».